segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Hora de sonhar

Naquele dia, justo naquele dia, ele resolveu deixar de cumprir o que disciplinadamente cumpria todos os dias. O relógio? Ah, este ele deixou na mesa de cabeceira, pois, para a aventura daquele dia, não se fazia necessário. Deixou o jornal com o porteiro do prédio, já que as notícias poderiam esperar. O que não poderia esperar era o tempo que havia marcado com ele mesmo. Havia cansado dos protocolos, cansado de sorrir sem que fosse realmente provocado tal ato. Sucumbiu à tentação de desfrutar dos melhores paladares, aqueles que há tempos não sucumbira. Depois de alimentar seu corpo, mais com os olhos do que realmente se fazia necessário, deitou-se num banco à beira do rio. Sim, ele cochilou. Dormiu e sonhou. Dessa vez não queria sonhar. O sonho estava ao seu alcance, ao menos naquele dia. Então acordou. Com toda aquela paz, caminhar com os pés na água fresquinha lhe cairia muito bem. Foi o que fez. As horas passavam sem que sequer percebesse. Como que num ímpeto, seu olhar fixou-se naquela jovem. Não sabia por que olhava com tanto afinco para a jovem que sequer conhecia. Aproximaram-se e apenas se olharam mais fixamente. Durante meses, anos, a rotina do jovem não permitia que desfrutasse de momentos tão simples. Não queria que acabassem. Fazia-se necessário eternizá-los. Contudo, um barulho ensurdecedor fez com que desse um salto daquele banco. Mais um barco ancorava naquele pequeno porto.  Ele acordou. Adormecera e por ali havia ficado por horas e horas. Não foi dessa vez que ela vinha a seu encontro, ao menos não de verdade. Hora de voltar para casa. Esse foi um entre outros tantos momentos que ele teria consigo mesmo.

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